A incapacidade de observarmos criticamente a nós mesmos é justamente o que nos faz tão autocríticos a ponto de só conseguirmos detectar perfeição em algo alheio às dimensões de nossos corpos.
Basta colocarmos um objeto bem próximo do rosto para verificarmos o quão difícil será enxergá-lo e analisá-lo. O mesmo processo ocorre quando nos enxergamos e nos analisamos: estamos muito próximos de nós mesmos e por isto (e apesar disto) a visão que temos é desfocada, amorfa.
Portanto é óbvio que é muito mais cômodo observarmos o que está ao nosso redor do que o que está em nós, até porque a instantaneidade dos sentidos é sedutora a ponto de por a razão em segundo plano, e é só através dela que se dá o autoconhecimento.
Paradoxalmente à visão turva de nós mesmos, somos os únicos a ter ciência sobre nossas próprias características, uma a uma, mesmo que não de uma forma plenamente consciente. Quanto aos outros, sabemos, enxergamos e analisamos somente o que nos é permitido.
Nesse jogo de translucidez e opacidade, o que nos resta é sermos otimistas e acreditar que só os outros são perfeitos porque ainda não os conhecemos.
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Texto escrito para a cadeira de Leitura e Produção de Textos III. Reciclagem de idéias não é sinônimo de preguiça, mas nesse caso sim.