domingo, 23 de março de 2008

Inexorável intensidade

Quão marasmática seria a vida sem a intensidade.
Por mais que por vezes atrapalhe, ela, audaciosamente, tempera e dá cor aos pensamentos e sentimentos, por mais corriqueiros e frívolos que eles sejam.
Acompanha-me incansavelmente, desde que descobri que sou suficientemente humana para usá-la sem medo.
Não a poupo um só instante, e, pelo contrário, abuso de sua generosidade em simbiose com a crueldade.
Perigosa e inocente. Maximiza o que já está evidente; dá excessiva importância ao pouco, ao irrelevante.
Motivo de desespero e euforia.
A mãe dos paradoxos, a gota que faz transbordar.
Todos os aforismos a teu respeito são absolutamente instáveis; ora vangloriam, ora repudiam. Eis a prova de que és um advento decisivo para comprovar ou arruinar seja lá o que for.
Quanto mais intenso, mais intrigante; seja um grande amor, seja uma vontade aleatória, seja um sofrimento.

Use-a e viva prazerosamente.
Use-a e morra dolorosamente.

Saiba dosá-la, se for capaz.
E depois me ensine.

a M I G o.


Comumente, os ‘começos’ se diferem consideravelmente dos ‘meios’.

Os bebês nascem feios e enrugados, mas com o tempo viram misses, modelos e garotos-propaganda de cosméticos.

As borboletas nascem nojentas e dignas de pena, para logo após exalarem suas belezas incontestáveis.

A manteiga é produzida através de um aglomerado de gordura, mas ela derretendo sobre um pão francês quentinho tem um certo valor.

Logo depois de fotografadas, as imagens não têm muita vida, suas cores são opacas; mas com certos adventos elas viram obras de arte.

As amizades começam tímidas, ou como paixões platônicas e avassaladoras. Mas aos poucos mostram-se suficientemente sólidas para superar quaisquer obstáculos.
É assim a nossa amizade, que surgiu forte e bela por entre as sombras de um sentimento quase doentio e carnal.

Obrigada pelo ombro, pelo chaveiro que faz blim-blom, pelas horas de devaneios ao meu lado, pela risadas (in)convenientes, pelo olhares de reprovação, pela lasanha de brócolis, pelas caminhadas sob o Sol ardente para vê-lo, apenas. Pelas flores do pátio da tua casa, pelos puxões de orelha, pelas segundas-opiniões sempre bem-vindas, pela compreensão, pelas piadas infames e por ter me doado parte do teu sarcasmo.

Nem a morte nos separará. Nos encontraremos no inferno.

 
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